A caminho da costa

 


Muitas coisas mudaram de lugar e junto com isso meu pensamento sobre tudo a minha volta começou a se mover de uma forma que, no começo, eu fiquei reflexiva e com minha intuição gritando. Gritando tão alto de uma forma que eu nunca havia escutado antes. Me fazendo ficar atenta a sinais que eu não soube reconhecer. Mas que agora tudo parece estar mais claro e fazendo sentido. Eu pensei por alguns milésimos de segundo que eu estava fazendo tudo errado. Quis mudar. Quis sentir menos. Quis não escutar a intuição. Quis me cegar para a realidade.

Quis mudar tudo que eu sentia dentro de mim. Quis me mudar. Quis mudar a sensibilidade. Quis sentir as coisas menos intensamente e com mais calma. E então, com o passar dos dias comecei a perceber que a sensibilidade faz parte da minha essência. E que isso não consigo mudar. Mais do que isso, eu posso me manter sensível e ao mesmo tempo manter a calma. Eu posso colocar os pensamentos no lugar e ao mesmo tempo ser sensível com os pés presos ao chão.

Vezenquando me pegava pensando no que sou, em tudo que me tornei e o que a eu do passado pensaria do meu eu do presente e do futuro. Me fiz acreditar que as coisas nunca iriam mudar. Cheguei a pensar que estava em um mar sem salva vidas sem saber como manter o fôlego através das ondas que me puxaram mais e mais para um infinito de águas frias e turbulentas. 

A boa notícia é que eu nunca precisei de um salva-vidas para me salvar. Eu estava enganada. Me ceguei de uma forma tão intensa que acreditei que sempre precisaria de alguém para me salvar. 

A má notícia é que eu sempre estarei sozinha. E com algumas águas vivas tentando me queimar durante as minhas inúmeras tentativas de chegar à costa.

A ótima notícia é que eu sempre estarei sozinha. Sempre precisarei unicamente de mim e isso deve bastar. Isso me basta. Porém, muito provavelmente eu ainda não consiga chegar a costa sem engolir um pouco de água salgada, mas eu consigo nadar. 

Eu sei nadar.

A minha sensibilidade traz consigo todas as sensações que o mundo faz questão de me mostrar. A minha sensibilidade faz eu sentir muito, sentir muito o tempo todo. 

E eu gosto de sentir. 

Sentir tanto faz eu me sentir viva.

Faz eu sentir que faço parte desse mundo. Mesmo que ainda existam muitas sensações ruins de que alguém pode me puxar pro fundo, a única coisa que posso fazer é pensar em mim, não esquecer de mim. Bater de frente e não me deixar levar pela maré de coisas ruins. Não posso sentir que isso está me consumindo o tempo todo.

Eu posso sentir.

Eu ainda posso sentir muito o tempo todo.

A cada milésimo de segundo que eu respiro.

Eu me permito sentir todas as dores que a maré me traz e com muita intensidade. Mas mais do que tudo não posso deixar que as ondas me consumam.

Não posso deixar o meu sentir apenas resumido em queimaduras de águas vivas que estão aqui só de passagem. Afinal, é uma passagem. Não um destino.

Eu tenho a mim.

Eu nado o máximo que conseguir.

Eu tenho forças para isso.

Eu não me afogo.

E então, depois de tudo isso eu olho para o universo de mim mesma e respiro fundo, porque chegou a hora. 

Finalmente chegamos à costa.


2 COMENTÁRIOS

  1. Que lindo amiga, por isso você é tão preciosa, nunca deixe de sentir nada por opinião dos outros <3

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