Socorro?


Eu sempre fui boa com palavras, mas agora me parece que as palavras deixaram de fazer parte de mim. Como se tivessem ido embora com as tempestades que a vida me trouxe. Foram tantas que acabei esquecendo de mim.  Mais uma vez.  Eu sempre esqueço de mim.

As palavras eram partículas da minha essência. Meus dedos dançavam sobre o teclado e eu conseguia escrever sobre sentimentos que poucos que poucos ousavam nomear. Eu conseguia sentir que cada letra saía da minha mente como se estivessem sendo despejadas em forma de um pedido de socorro. Será que agora que eu começo meu novo pedido de socorro?

As tempestades vieram e tomaram conta.

As gotas da chuva que tanto me acariciavam agora estavam me maltratando.

Os ventos que traziam vida aos fios dos meus cabelos estavam criando nós difíceis de serem desfeitos.

A vida aconteceu ao contrário.

O que era bom, se tornou doloroso.

O que era doloroso virou vazio.

A vida aconteceu ao contrário.

A vida desbotou.

A vida deixou de ser vida.

E, ainda assim, vontade de escrever voltou, avassaladora. Querendo fazer parte de algo que já existia antes mas estava esquecido. Muitas coisas foram esquecidas porque o vento da tempestade levou, mas hoje há sol. O vento não me parece violento como das outras vezes, sinto que agora, mais do que nunca, ele sopra em busca de paz. Mas será mesmo que tempos de tempestade podem se transformar em momentos de calmaria?

Hei de descobrir.

Hei de descobrir que as palavras ainda pertencem a mim.

Que as tempestades podem resgatar a essência que parecia perdida.

Que a vida pode entrar no eixo e que não estou mais no olho do furacão.

Essas palavras são um pedido de socorro.

Não sei exatamente a que — ou a quem.


Só sei que quero ser salva de mim.


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